Airton Sampaio
((A denominação Geração Pós-69 só
tinha algum significado para se dizer, ainda que não adequadamente, de um
conjunto de atores culturais impactados principalmente por dois profundos
eventos históricos: a chegada do homem à Lua, em 20 de julho de 1968,
responsável pela mudança de muitos paradigmas, e a edição, pelo governo
militar, do AI-5, em 13 de dezembro do mesmo ano, início formal, que fato já o
era, da hiper-repressão política no Brasil, consolidadora da escuridão antidemocrática
que desde 1964 grassava neste ainda hoje “país do futuro”. No entanto, como uma
crítica ácida que foi, no plano estético, do academicismo, na dimensão
comportamental, da caretice, e na esfera política, de todos os governos, a
Geração Pós-69 só poderia ainda assim ser chamada, com certa condescendência,
em razão de sua fundamental atitude comportamental freqüentemente anárquica, de
sua histórica contestação às Academias de Letras (no Piauí, Alcenor Candeira
Filho desferiu-lhe um covarde primeiro golpe ao entrar para a APL, deslumbrado
com a “imortalidade” por ela “conferida”) e às suas diatribes à ditadura
militar e demais governos civis a ela sucedâneos (Sarney, Itamar, Collor, FHC)
se não tivesse caído, como vergonhosamente caiu (eis o segundo não menos
covarde golpe), nos braços nada éticos e pouco realizadores dos governos do PT
de Lula lá e W. Dias cá, cujos projetos de perpetuação no poder, a fim de
exercer o poder pelo poder, baseiam-se em ações eleitoreiro-assistencialistas
(Fome Zero, Bolsa-Família, etc) raivosamente atacadas pelo petismo quando pelos
outros praticadas.))
Literatura Brasileira de Autores
Piauienses? Ora, LITERATURA BRASILEIRA DE AUTORES PIAUIENSES é um conjunto
assistêmico (no plano local, as estéticas clássica, barroca e árcade, no século
19) e sistêmico (idem, as estéticas romântica, realista/naturalista/parnasiana
e simbolista, nos séculos 19 e 20, pré-modernista e modernista, no 20 e 21, e
pós-moderna, no 21) de obras eminentemente literárias cujos autores exibem o(s)
vínculo(s) de NATURALIDADE (por exemplo, Permínio Asfora, que nasceu aqui porém
se radicou na Paraíba e em Pernambuco, Mario Faustino, no Pará e Rio de
Janeiro, Esdras do Nascimento, no Rio de
Janeiro, etc), Não-naturalidade, mas MILITÂNCIA LITERÁRIA NO PIAUÍ (casos de
Hardi Filho, um cearense, Rubervam du Nascimento, um maranhense, Jamerson
Lemos, um pernambucano, etc) e
Não-naturalidade e não-militância literária, mas EMPATIA TEMÁTICA COM O
PIAUÍ (caso de Odylo Costa, filho,um maranhense --- vide “Histórias da Beira do
Rio”). Daí que a tradicional nominação Literatura Piauiense, apesar da vantagem
da síntese, traz o grande demérito de descontextualizar a literatura feita no
ou para o Piauí da Literatura brasileira, de que é, na verdade, uma de suas
manifestações específicas, devendo, pois, ter seu uso questionado.
Destarte, qualquer que seja o autor
de obra eminentemente literária --- assim considerada aquela que se caracteriza
pela predominância da FICCIONALIDADE e ESTILIZAÇÃO DA LINGUAGEM --- que cumpra
o vínculo de Naturalidade ou, mesmo não o cumprindo, faça-o em relação a um ou
outro dos demais (Não-naturalidade mas Militância Literária no Piauí ou
Não-naturalidade e não militância literária mas Empatia Temática com o Piauí),
integra o que se pode singularmente denominar Literatura Brasileira de Autores
Piauienses. Como se vê, apenas o terceiro vínculo padece de maior subjetividade
avaliativa, o que não se dá com o primeiro, totalmente objetivo, nem com o
segundo, pouco subjetivo.
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In: Diário do Povo
do Piauí, caderno Galeria, seção Cultura. Teresina, 15 mar 2007, p. 18.