terça-feira, 30 de setembro de 2008

CRÁSTINOS INATIVOS

A enquete realizada pelo blog (veja resultado ao lado) revelou o óbvio ululante: os três seguintes integrantes da Geração de 1970 a amortalharem-se no fardão da Academia Piauiense de Letras, ao lado dos seus demais fósseis, são, por ordem alfabética e, não necessariamente, de entrada: Adrião Neto, Cineas Santos e Kenard Kruel.
O Bezerra JP continuará a sonhar acordado com a imortalidade, mas o Sodalício nunca lha concederá. Motivo? O Mausoléu é muito, muito preconceituoso...

domingo, 28 de setembro de 2008

ENSINA ELES, CAETANO!

Peço perdão a C por interromper o que quer que seja que estávamos falando (o que era mesmo? sobre críticas e a imprensa? alguém pensou que era contra São Paulo? jamais: estou muito no Rio mas gosto muito mais de São Paulo sob vários pontos de vista - um dia volto a esse antigo tema): preciso dizer a Lucas Matos que eu nunca escrevi que lingüistas não amam a língua portuguesa - e que quando falei em demagogia eu me referia a determinados argumentos que vi publicados, não a todos os lingüistas. Não preciso ser especialista na disciplina para me manifestar. O que escrevi foi: “Sou apaixonado pela língua portuguesa e por gramática (ao contrário de lingüistas e demagogos em geral, acho o sucesso público de figuras como o professor Pasquali um bom sintoma).” Já li e ouvi de diversos demagogos (alguns eram lingüistas) reações enraivadas à presença pública de Pasquali e outros gramáticos que dão dicas em revistas ou na TV. Diferentemente deles, acho um bom sinal que tal fenômeno tenha surgido e crescido. Não há nenhum charme de falar sobre o que não sei aí. Sei muito bem de tudo isso. Quanto à lingüística propriamente dita, li Saussure (aquelas aulas) no início dos anos 70. Li somente porque os poetas concretos falavam dele, Lévi-Strauss (cujo “Tristes trópicos” me apaixonou em 1968) falava dele, todos falavam de Jacobson, que falava dele. Fiquei maravilhado com a afirmação de que a língua é viva e mutante na práxis dos falantes: a língua é falada, a escrita seria apenas uma notação convencionada a posteriori, como as pautas musicais. Nunca vou esquecer sua observação de que o francês é a única língua ocidental que tem uma palavra cuja grafia não guarda nem um só dos valores fonéticos originais das letras que a compõem: “oiseaux”. Depois, entre muitas outras conversas, observações e leituras, fui nuançando essa visão. Para meu governo (tenho uma vida mental íntima, como todo o mundo, que não se desenvolve para publicar-se: aqui no blog naturalmente essa vida íntima se expõe mais, mas é só uma tênue película - como sói acontecer.). Há já um bom número de anos, fui fazer show em Campinas e um professor da Unicamp me entregou um presente: o livro de uma lingüista, com uma dedicatória bonita (”Para Caetano, com as palavras que me faltam”). O livro era sobre português europeu e português brasileiro. Talvez surjam aqui imprecisões, já que perdi o livro numa das mudanças que se seguiram à minha separação - e muitas vezes o confundo com um outro, de autoria coletiva, chamado “Português brasileiro” (título e expressão que adoro). O da professora era escrito num português excelente e tudo nele me interessava. Mas havia coisas que me ficaram como questões numa discussão que nunca se deu. Por exemplo: ela assumia de uma vez por todas que a segunda pessoa do singular não existe no Brasil. É “você” e acabou. A segunda do plural, então, já tinha morrido antes de o Império terminar. Considerava também como inexorável o desaparecimento futuro das conjugações reflexivas (os verbos pronominais). Ora, eu acho que os gaúchos dizem “tu” a torto e a direito (talvez mais a torto do que a direito); os cariocas conjugam, com muita ginga, verbos na segunda pessoa para enfatizar ironia ou agressividade (”tás me estranhando!”, “tás por fora”, “tens cara de veado” etc.) e usam o “tu” para mostrar informalidade (”tu é gay, tu é gay que eu sei”, o Maracanã grita para alguns jogadores; meu filho de 16 anos diz a seus amigos - e ouve deles - coisas como “tu vai lá e chega na mina.”); os pernambucanos perguntam sempre “viste?” - que muitas vezes eles suavizam para “visse?”; os paraenses conjugam o verbo na segunda pessoa, quando escolhem “tu” em vez de “você” - e muitos deles usam o possessivo na segunda do plural (a um casal ou grupo de amigos perguntam: “esses livros aqui são vossos?”). E, seja como for, todos os brasileiros, inclusive (talvez mesmo principalmente) as crianças entendem as letras das canções de Orestes Barbosa ou de Chico Buarque em que o cantor se dirige à amada na segunda do singular. Não se pode dizer que todas essas pessoas não possuam esses recursos da língua. Muito menos que as estará oprimindo quem lhes explicar como funcionam. Por outro lado, meus amigos baianos e cariocas (inclusive muitos semi-analfabetos) riem dos mineiros (e de alguns falantes do interior de São Paulo) quando eles omitem o pronome dos verbos reflexivos: “paixonei com ela” (em vez de “me apaixonei por ela”), “espera eu aprontar” (em vez de “espera eu me aprontar”), “assustou” (em vez de “se assustou”) etc. Lembro que, no livro, a professora indicava tratar-se de tendências. Mas, além de ela dar valor normativo a essas tendências, o argumento de que qualquer transmissão de conhecimento relativo à tecnologia da língua é opressão era recorrente. Essas eram questões que gostaria de discutir com ela. Mas meu tempo foi sempre escasso - e temi importuná-la e tomar seu tempo. Depois perdi o livro. Volto a pensar nessas coisas (e em outras que encontrei, nascidas das descobertas de Noam Chomsky) sempre que vejo reações públicas de lingüistas a qualquer exposição de paradigma culto. Finalmente, li uma entrevista na Caros Amigos, que me foi enviada por Tuzé de Abreu, de um lingüista que escreveu “A norma oculta”, defendendo o português de Lula contra os preconceitos da “elite”. Eu tenho idéias políticas a respeito. E não preciso me formar em ligüística na Sorbonne para expô-lo. Claro que são argumentos para se discutir. Mas são fortes. Na entrevista do autor de “Norma oculta” (não estou evitando escrever seu nome: simplesmente esqueci, mas faço questão de mencionar o nome do livro, que deve ser lido) há agressões a Pasquali (por parte dele e dos entrevistadores) e a toda idéia de correção ou enriquecimento da fala. E um quase silêncio mórbido sobre a língua escrita. Ora, eu acho que esses arroubos de populismo são em geral um superesnobismo mal disfarçado. Claro que sei que se escrevia “frecha” (até os poetas românticos ainda usavam essa forma) e que , portanto, dizer “TV Grobo” não é exatamente errado. Mas as pessoas que dizem “grobo” são as mesmas que têm vocabulário menor, menos acesso aos conhecimentos, menos poder. Os emergentes brasileiros que, saindo da pobreza para a crescente classe média, desejam aprender com os Pasqualis da vida são os alvos finais da agressão desses lingüistas. Por mais bem intencionados que sejam, estes resultam demagógicos, pois proíbem a troca natural entre os níveis de informação (sendo assim mais contra o dsenvolvimento orgânico da língua do que os gramáticos) e ostentam estar de posse de teorias de ponta. Aliás, naquela longa entrevista de Lévi-Strauss a Didier Eribon, o grande antropólogo diz que começou influenciado pela lingüístca mas que nos últimos anos deixou de interessar-se pelos textos teóricos da disciplina por achá-los muito esnobes e preciosistas. Acho que se tivermos mais brasileiros letrados, melhores escolas, menos pobreza (isto já começa a se dar), o trato com a palavra escrita poderá mudar muitas “tendências”. E é gritante o desleixo pela palavra escrita nesse processo. Sim, me lembro de Saussure. Mas, por exemplo, há “tendências” misteriosas: por que leio hoje nos jornais e nos livros quase sempre “em um” ou “em uma”, em vez de “num” ou “numa”? Será que há uma regra que desconheço? Os falantes que ouço, todos, sempre disseram “o corpo foi encontrado num canto da praça Genral Osório”. Mas os jornais escrevem “em um canto da General Osório”. As moças da TV já dizem preferencialmente “em um”. E já começo a ouvir pessoas de carne e osso dizendo “em uma rua escura” em vez de “numa rua escura”. Será que é regional (como a professora que me mandou o livro toma uma inclinação mineira contra os verbos pronominais como universalmente brasileira, eu estarei tomando uma tendênia baiana a fazer a contração da preposição “em” com o artigo indefinido como regra nacional?)? “Você e tu”, está na minha letra de “Língua”. Odeio ter lido um elogio à decisão do novo traditor de Proust (um Py, aliás bom) de “evitar o lusitanismo “raparigas’” e chamar o título do terceiro volume de “Em busca do tempo perdido” de “À sombra das moças em flor”. Mas quê que é isso? Trata-se de um livro do início do século 20, contando histórias que se passam no século 19, um livro culto, complexo - por que diabos deve-se sacrificar o ritmo e a sonoridade bonita que Mário Quintana encontrou para traduzir “À l’ombre des jeunes filles en fleur” (inclusive mantendo o mesmo número de sílabas e a acentuação no “i” do original)? Só para usar o termo “moça”, vulgar, pesado, e dar a impressão de que escreveu em português brasileiro “natural”, sem “lusitanismo”? Não! Para mim ficou foi sem a beleza de “À sombra das raparigas em flor”. O que isso tem a ver com os lingüistas, a língua falada, a norma culta, a norma oculta, a demagogia e a mania de pensar que o melhor modo de resolver o problema das favelas é destruir o sistema de esgoto de que desfrutam as “elites”? Tudo.
(Texto retirado do Blog de Caetano Veloso: www.obraemprogresso.com.br).

SEMÂNTICA

Não, senhores, pode até parecer, mas "recepcionar" não é o mesmo que "receber". O poeta Francisco Wilson, por exemplo, eu o recebo, se possível bem. Já deusas de carnes e osso, com mais carnes que osso, dessas que aparecem amiúde no blog do Kenard, eu, suditamente, as recepciono (tapete vermelho sob seus pés, ad-miração, vinho para seus lábios...). Viva a feminina língua portuguesa!!!

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

INGRATIDÃO

"Não te irrites se te pagarem mal um benefício: antes cair das nuvens que de um terceiro andar."

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

AVISO PRÉVIO

Ora, não basta um aviso? Ou um aviso POSTERIOR ao fato ainda seria um aviso?

sábado, 20 de setembro de 2008

DEMAGOGIA PEDAGÓGICA ANTIDIGLÓSSICA

Essas demagogias que vicejam pela Ufpi não me enganam, que delas já estou escaldado. Agora querem porque querem fazer de conta que não há, no país, uma DIGLOSSIA, isto é, uma variedade lingüística culta, a mais socialmente prestigiada, em razão mesmo não só de um longa tradição de modalidade escrita, mas também em decorrência da pornográfica desigualdade social brasileira, em convivência mais ou menos tensa com uma variedade popular, usada vernacularmente com total proficiência e eficiência. No entanto, por eles, que se dizem lingüistas, não mais se devem estudar no Curso de Letras, ou fazê-lo apenas opcionalmente, as "regrinhas" da língua legislada, que não tem, para esses gênios, a mesma legitimidade da variante vernacular, já que não vem do povo, mas das elites. Ou seja, por essa esdrúxula tese, esta postagem podia ser, sem problemas, escrita assim:
"Essas demagogia não engana-me, que delas já tou escaudado. Agora querem porque querem fazer de conta que não tem, no país, uma DIGLOSIA, isto é, uma variedade linguistica culta, a mais socialmente prestijiada, em razão mermo não só de um longa tradição de modalidade escrita, mas também em decorrencia da pornografica dezigualdade sociau brasileira, em convivenvia mais ou menas tensa com uma variedade populá, usada vernacularmente com total pro-ficiencia e eficiencia. Entonce, por eles, que se diz lingüistas, não mais se deve estudar no Curso de Letras, ou fazê-lo apenas opicionalmente, as "regrinhas" da língua lejislada, que não tem, para esses genios, a merma lejitimidade da variante vernacular, já que não vem do povo, mas das elite."
Ora, é muita demagogia, não é não? Enquanto isso, são esses os mesmos que aprovam a torto e a direito, não para o povão que tanto falam em incluir, mas para a classe média já incluída, cur$o$ de exten$ão pago$ (inglê$ e e$panhol, por exemplo), realizado$, $em nenhum ri$co de prejuízo ao$ promotore$, na$ dependência$ de uma univer&idade ainda pública, como a Ufpi. É uma lá$tima!

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

ELMAR CARVALHO

Os Mausoleus elegeriam para o Mausoléu um fiscal de preços da extinta Sunab? Já um meritíssimo juiz de direito, por acaso também poeta...

domingo, 14 de setembro de 2008

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

NOVA GESTÃO DO CA DE LETRAS

A Chapa "Anjos Tortos" venceu a eleição para a próxima gestão do Centro Acadêmico de Letras Torquato Neto da Ufpi, na verdade uma continuação da anterior, aprovada pelos estudantes, com maioria de 170 votos. Daniel, o novo presidente do CALTNe.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

PREFEITO POR DIREITO DIVINO!

Nazareno Fonteles disse, num programa eleitoral, que Deus o escolheu para ser prefeito de Teresina. Será, por Júpiter!, que a divindade tem tanto mau-gosto assim?

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

PULGA GRAMATICAL

"Curso de Espanhol promove mini-curso com Pedro Navarro

A Coordenação do Curso de Extensão em Espanhol, da Universidade Federal do Piauí, promove mini-curso com o professor espanhol Pedro Navarro com a seguinte temática: "Ámbitos, acciones y competencias: nuevos ejes para la enseñanza a partir del Marco Común Europeo y de los niveles de referencia para el español". O evento acontece no dia 18 de setembro, a partir das 18h, no auditório do CCHL." (In: http://www.ufpi.br).

Sem querer dar uma de caçador de pulgas gramaticais, mas já caçando pulgas gramaticais: minicurso se escreve assim, sem hifem. E não me venham dizer que a redação do texto foi da assessoria (ou seria mesmo aceçoria?) de comunicação da Ufpi... Ah, mal nenhum causaria uma vírgula entre "Pedro Navarro" e "com a seguinte...". Pentelho!

terça-feira, 9 de setembro de 2008

UMA REVOLUÇÃO A CAMINHO?



por M. de Moura Filho

O que leva alguém a amortalhar-se em um fardão senão a soberba? Em todas as gerações há soberbos. Decerto que a pós-69 não é diferente.

Com a eleição de dois integrantes da geração pós-69, mencionados por Airton Sampaio, em postagem que transcrevi, alguém, tresloucado, poderá pensar que se dará na Academia Piauiense de Letras alguma evolução. Tolice. A imortalidade, em uma academia, encerra a vida. Está certo que alguns, antes mesmo de alcançarem a imortalidade, já puseram fim à vida.
Assim, não é somente a soberba, imagino, o que move alguém em busca de uma academia, notadamente as letras. Penso que a ausência de inquietações contribuiu para se perseguir o caminho do Mausoléu, quer dizer, do Sodalício: se ainda houver alguma inquietação, esta decorre, provavelmente, de senilidade.

(Retirado do blog Vidas Noves Fora Zero, de M. de Moura Filho, em postagem de 9/9/2008)

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

SE TUDO É GÊNERO, ENTÃO...

"III Enmel promove palestra com Professor Marcello Moreira

A coordenação do Mestrado em Letras, da Universidade Federal do Piauí, convida a comunidade em geral para assistir a palestra intitulada “Dois dedos de prosa - Louvor e Vitupério na sociedade do Rio de Janeiro no Século XIX”, proferida pelo Professor Doutor Marcello Moreira, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), no dia 08 de setembro.
(...)
A palestra incidirá sobre a época do século XIX e repassará em reflexão a fundamentação retórica das letras cultas praticadas na ex-colônia portuguesa até pouco antes do movimento modernista. Os dois tipos de discursos a serem tratados, o louvor e o vitupério (ofensa; insulto), são gêneros consagrados pelas convenções retóricas mais antigas que se conhece.
(...)"
Louvor é gênero? Vitupério é gênero? E se o louvor aparecer num conto o gênero é a prosa ou o louvor? E se o vitupério aparecer num poema o gênero é a poesia ou o vitupério? Socorro, Aristóteles da Grécia!

domingo, 7 de setembro de 2008

GERAÇÃO PÓS-69?

Primeiro, Alcenor Candeira Filho, lá da Parnaíba, vestiu o fardão do Sodalício. Agora, Elmar Carvalho, também lá da Parnaíba, realizou seu sonho de imortalidade. Amanhã, depois da certamente regimental e próxima sessão de panegírico...

sábado, 6 de setembro de 2008

UMA FÁBULA DOS TEMPOS HODIERNOS

“Mas o pelicano e a coruja a possuirão, e o bufo e o corvo habitarão nela; e ele estenderá sobre ela o cordel de confusão e nível de vaidade.” (Isaías 34:11)

Por Emerson Araújo

"A Fábula é uma narrativa alegórica em prosa ou verso, cujos personagens são geralmente animais, que conclui com uma lição moral. Sua peculiaridade reside fundamentalmente na apresentação direta das virtudes e defeitos do caráter humano, ilustrados pelo comportamento antropomórfico dos animais.” Começo o texto com esta conceituação singular sobre a espécie narrativa denominada de fábula para tecer, também, algumas considerações preliminares sobre o belíssimo conto O Corvo publicado no blog da confraria Tarântula por J. L. Rocha do Nascimento recentemente.
O conto O Corvo me chamou atenção pela leveza estilística da narrativa mesmo não trazendo nenhuma novidade experimental na forma de narrar como é do hábito dos atuais contistas que se lê volta e meia. Mas é um belo conto poético onde a força fabular nos remete para o universo humano diversificado, ensinando a todos os seres que respiram que existe um corvo a nos dar as mais dolorosas bicadas, a invadir nossas entranhas, às vezes, lentamente, outras vezes nem tanto. O conto de J. L. Rocha do Nascimento nos coloca diante desta certeza.
Outro aspecto que percebi na seqüência da narrativa de O Corvo foi a construção de imagens alucinantes num jogo verbal morfossintático que engrandece ainda mais a literatura realista fantástica cunhada por um Garcia Marquez. Neste conto percebe-se, ainda, a engenharia frasal que me agrada muito na narração e que o aproxima dos poetas barrocos estilistas das assimetrias em tempos passados. Digo, também, quando não se experimenta na construção da forma literária, deve-se propor mesmo na forma tradicional de contar, poetizar, romancear algo de novo, inusitado. Isso é muito claro em J. L. da Rocha Nascimento e em seu O Corvo, agora. Atrevo-me até mesmo a afirmar um sacrilégio para os outros confrades do Tarântula que João Luiz Rocha do Nascimento carrega nos seus contos a veia literária ibero-americana, encontrada em poetas e narradores singulares como Pablo Neruda, Garcia Lorca, Murilo Rubião, Machado de Assis, Júlio Cortazar, Borges, Nicolas Guillen, Graciliano Ramos e tantos.
Mas volto a insistir, O Corvo antes de ser um exercício de linguagem, é um manancial de ensinamentos para o ser humano. É aqui, seguindo o conceito de fábula/alegoria que o conto de J. L. da Rocha Nascimento se realiza por completo. Deixa-nos aprendizados e algumas reflexões sombrias diante da condição humana dentro de todos os contextos. As bicadas do corvo quando toma posse do cérebro, no conto, nos induz para uma concepção existencial inexorável, a incapacidade de controlar as nossas ações diante das realidades lacrimejantes impostas. As bicadas são metonímias trágicas de dominação, de confusão, violência, hipocrisias, mentiras, vaidades, dissimulações, jogo de interesse, negatividade, falta de criatividade e tantas aberrações que nos são colocadas nos cotidianos diversos em siglas e labirintos inatingíveis. No conto, ainda, o cérebro bicado já não esconde a falta de resistência aos dominadores deste e de outros mundos, basta uma breve reflexão para se perceber esta verdade em todos nós.
Por fim, sem querer vender nenhuma doutrina bíblica de plantão, percebi, na primeira leitura de O Corvo, o tom profético catastrófico e apocalíptico do mesmo e que me remeteu para o profeta Isaías do antigo testamento e sua epígrafe bíblica: “Mas o pelicano e a coruja a possuirão, e o bufo e o corvo habitarão nela; e ele estenderá sobre ela o cordel de confusão e nível de vaidade.” (Isaías 34:11), confirmada na vitória do corvo sobre as nossas pueris resistências, vejamos: “Talvez no dia em que elas cobrirem meu corpo como um manto negro é que irão acreditar em mim, mas aí já terá sido tarde, eu creio. O corvo, impune, baterá asas.”. Infelizmente o corvo mais um vez venceu em lugar do ser humano.

(Texto retirado do blog de Emerson Araújo, postado em 30/8/2008)

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

VIVA WALDICK SORIANO!

!O clássico do brega!

VIVA JAMERSON LEMOS!

!Um pernambucano piauiense!
(Foto retirada do blog do Kenard Kruel)

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

NAZARENO Fonteles

Sinceramente, Jesus Cristo merecia uma homenagem dessas?