quarta-feira, 7 de abril de 2010

UM ESTUDO, ATÉ QUE ENFIM, NÃO MANIQUEISTA!

Refiro-me à dissertação de mestrado de Paulo Gutemberg que, por razões profissionais, tive o privilégio de ler inédita. Publicado, e tomara que ganhe título significativo, sem o costumeiro ranço acadêmico, o estudo de PG será, a meu ver, um DIVISOR DE ÁGUAS na nossa historiografia, em especial porque

a) DENUNCIA e ROMPE com o nefasto maniqueísmo que nos tem ideologicamente dominado, impedindo, ao pôr de um lado mocinhos sempre puros e infalíveis (índios, negros, pobres, homossexuais, mulheres, comunistas, guerrilheiros, etc) e do outro vilões sempre impuros e desumanos (colonizadores, brancos, fazendeiros, heterossexuias, capitalistas, militares, etc), de ver a realidade em sua riqueza e complexidade, sem as suas muito matizadas nuances;

b) DENUNCIA e ROMPE com o discurso (utilíssimo para as elites) vitimológico a que tanto recorremos para culpar os outros (o insensível governo central, o egoísmo das demais unidades da federação, o passado com tantos índios e negros e pobres massacrados, etc) pelos nossos nossos próprios vícios (o de abaixar a cabeça a qualquer poder central, por exemplo) e incompetências, e..., e ..., e...;

c) DENUNCIA e ROMPE com a saudade de um passado glorioso porque feito de indígenas e negros e que, por não o termos mais, pelo menos em seus termos tão idílico-paradisíacos (sem conflitos, como se isso fosse possível entre humanos), nos lançou, coitadinho da gente, no abismo nefando deste desigual agora. Ora, por que este nosso terrível agora não pode também explicar, ao reverso, um passado não tão fabuloso assim?

O estudo de PG põe o dedo na ferida desses discursos eivados de interesses nem sempre elevados, VENHA DE ONDE QUER QUE VENHA, ou seja, sem maniqueísmos redutores. E não se trata de denúncias vazias, mas fartamente documentadas, nem de discurso soberbamente unilateral, mas vigorosamente demonstrado. É claro que PG tem suas inclinações (políticas) para um extremo ou outro da realidade (todos temos!), porém não deixou de ver, como sói acontecer entre ideólogos mais que entre historiadores, que do vermelho ao violeta há BILHÕES de tonalidades no espectro. Isso, penso eu, não é pouca coisa numa historiografia que nem a piauiense, tão plena de verborragias.

Sim, há muito tempo um trabalho acadêmico não me encantava.          

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