quinta-feira, 3 de novembro de 2011

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Quando Ismália Palácio das Dores batizaram,
Hitler invade a Polônia.

Quando, já no Colégio das Irmãs, ouve o badalar repentino dos sinos da São Benedito
não sabe como sabia que casas se estavam queimando na cidade como
se Therezina a Roma de Nero, diz irmã Natália.

Quando Ismália sangrou, e espantou-se,
Ghiggia, Schiaffino e Obdúlio Varela lacrimejam os olhos do Brasil.

Quando ela, também primeira vez, enamora-se,
e ouve afaste-se desse sujeitinho sem eira nem beira, 
Getúlio matara Vargas.  

Quando nas aulas de português descochilou
é que Irmã Natália fala coisas como a vida é solecismo, na verdade é um anacoluto, a vida.

Quando a casam, e então Ismália Palácio das Dores Guimarães,
os russos arremessam o Sputnik.

Quando a filha veio, e sentiu, em igual dose, euforia e remorso,
Garrincha macunaíma na Suécia.

Quando, falecidos os pais, ela divorcia, e então Ismália Palácio das Dores,
jamais esqueceu que de um rádio vinha Peguei o trem em Teresina
Pra São Luís do Maranhão
Atravessei o Parnaíba
Ai, ai, que dor no coração...

Quando, noite já um tanto desestrelada, nela cessou de vez o antipático sangue, 
O povo marcha Um,
dois, três, quatro, cinco mil,
queremos eleger o presidente do Brasil!

Quando Odara, do Natal na véspera, o tamborete sob os pés chuta, e língua de fora fica, e roxo o rosto rui, então Ismália Palácio das Dore
Ismália Palácio das Dor
Ismália Palácio das Do
Ismália Palácio das
Ismália Palácio da
Ismália Palácio d
Ismália Palácio
Ismália Paláci
Ismália Palác
Ismália Palá
Ismália Pal
Ismália Pa
Ismália P
Ismália
Ismáli
Ismá
Ism
Is
I


Um comentário:

EMERSON ARAÚJO disse...

Ismália, meu caro Airton, não é uma fada onírica? Ou é uma linguagem áspera da tristeteresina? Rapaz a tua experiência com a linguagem no contopoesia ou poesiaconto sempre me agradou...