quinta-feira, 30 de outubro de 2008

VIDA LONGA AO SALIPI E AO CINEAS SANTOS



Não tenho procuração para defender o Cineas Santos, mesmo porque ele não precisa de ninguém para defendê-lo. Querendo, ele saberá, melhor do que ninguém, fazer a sua própria defesa. Entretanto, diante das cartas do poeta Chico Castro para o poeta Emerson Araújo, publicadas originalmente no blog do poeta Emerson Araújo e republicadas aqui, na Kenard Kaverna, rogo vênia para alguns comentários:

Quando cheguei a Teresina, em 1977, expulso do Colégio Estadual Lima Rebelo, lá das Parnaíbas de Mão Santa e Alberto Silva, logo percebi a existência de dois grupos culturais e artísticos. O primeiro, em torno do crítico Francisco Miguel de Moura, com as seguintes pessoas: Rubervan du Nascimento, Elmar Carvalho, Adrião Neto, Hardi Filho, Herculano Moraes, dentre outros. O segundo, em torno do professor Cineas Santos, com as seguintes pessoas: Paulo Machado, Fernando Costa, Albert Piauí, Norma Passos (creio), Margareth Coelho (atualmente), Dodó Macêdo, Arnaldo Albuquerque, Antônio José Medeiros, Amaral, William Melo Soares, dentre outros. Não fui convidado a participar de nenhum grupo, muito menos me interessei em participar de um grupo em detrimento do outro, embora a minha afinidade estivesse (como ainda hoje está) com as pessoas que compunham o grupo do Cineas Santos.

Não que ele fosse o coronel Cineas Santos, a ponto de comandar as pessoas citadas acima. Não. A verdade é que em torno do Cineas Santos foi montado o grupo Chapada do Corisco, mais aberto, mais moderno, mais atuante, ainda hoje. Enquanto que em torno do Francisco Miguel de Moura foi montado o grupo Cirandinha, fechado, quase familar, conservador, ainda hoje. Do grupo do Francisco Miguel, quase todos estão na Academia Piauiense de Letras. O Adrião Neto, que quer, mas não se candidata. O Rubervan du Nascimento, que não se candidata, mas quer, mesmo afirmando o contrário, da boca para fora.

Agora, uma outra história: embora muita gente acredite que o Cineas Santos tenha criado sozinho a Livraria Corisco, ela nasceu mais do pensamento do Antônio José Medeiros, que se associou a Cineas Santos, Arthur (que Deus o tenha em bom lugar!), Milton e José Gonçalves (a turma do Colégio Andréas). A primeira Livraria Corisco funcionou na esquina das Ruas 1º de Maio (na mesma quadra do Banco do Estado do Piauí) com Areolino de Abreu. Eu estava lá. Fui tomar de conta do box da Corisco na Universidade Federal do Piauí, instalado ao lado do auditório (estou falando da UFPI antiga). O Antônio José Medeiros disse para eu dar desconto generoso para os professores e nada falou de descontos para os estudantes que, na verdade, precisam dos descontos mais do que os professores. Porém, era para estes indicarem os livros nas salas de aula. Ainda hoje é assim. Eu fiz o contrário. Não demorou dois ou três meses, fui demitido. Penso, ainda hoje, que o motivo tenha sido esse. Pode ter sido outro. Não sei. Talvez um dia pergunte ao Antônio José Medeiros. Talvez um dia ele me diga sem eu perguntar nada.

O Cineas Santos idealizou a Editora Nossa e, em torno dela, passou a editar livros e o jornal Chapada do Corisco, que saiu até o nono número, salvo engano. Este jornal foi o responsável pela criação da reportagem no jornalismo piauiense. Reportagem assinada. Diagramação moderna, para a época. Era praticamente todo datilografado pelo Cristovão, atualmente médico em Barras. As artes ficavam por conta do Albert Piauí, do Arnaldo e do Dodó Macêdo. O Antônio José Medeiros fez parte do corpo readacional do Chapada do Corisco.

Depois, o Antônio José Medeiros desfez a sociedade com o Cineas Santos, Artur, Milton e José Gonçalves, que ficaram com a Livraria Corisco. Nesta época, casado com a minha cunhada Rita Maria (irmã da Maria Rita, mãe dos meus filhos Rafael, Gabriel e Samuel), o Antônio José Medeiros abriu a Livraria Punaré (ou melhor, o Centro Piauiense de Atividades Culturais Ltda), que ficava onde hoje é o estacionamento do Banco do Brasil da Álvaro Mendes. A Punaré tinha como endereço a Rua David Caldas, 147, norte. Na parte de baixo, do lado esquerdo, o barzinho, comandado pela Ritinha. E a livraria em si. Na parte de cima, o depósito, uma sala com o stúdio do Albert Piauí, uma sala com o stúdio do Fernando Costa e uma sala com a Escola de Dança do Beto Pirilampo. Embora não tenha publicado jornal, a Punaré editou alguns livros. Importantes livros. Era o ano de 1979. Estávamos na pré-sala da criação do PT.

O Antônio José Medeiros deu prioridade ao campo político, arrastando com ele a Ritinha e o Albert Piauí. E eu atrás. Participei da criação do PT, do CEPAC, da FAMC, do escambau! Fechou a Punaré.

O Cineas Santos, continuando no grupo da Corisco, passou a ser uma espécie de gerente da Livraria Corisco e editor da Editora Corisco. O seu olhar sempre foi o olhar cultural. O olhar dos seus sócios - Arthur, Milton e José Gonçalves, sempre foi o olhar comercial. Cineas Santos passou a se ocupar das suas publicações - livros, jornais, calendários etc e das suas produções culturais e artísticas. Criando a Oficina da Palavra, passou a ela a se dedicar de corpo e alma, deixando os negócios da Livraria Corisco com os seus três sócios já citados. Em pouco tempo, a Corisco faliu feio. O Cineas Santos era a alma da Corisco. As pessoas iam à Corisco pelo Cineas Santos. Estando lá, compravam sempre alguma coisa. O Cineas Santos é uma pessoa carismática. Sempre arrodeado de gente, de todas as idades, de todas as cores, de todas as religões, de todos os grupos, de todos os lugares, de todos os pensamentos. Ouço dizer que ele é grosso, bruto, ignorante, pedante, cavalo batizado, cavalo sem batismo, entre outros disparates desse tipo. Não, o Cineas Santos é uma pessoa positiva! Se for pedir a ele 100 reais, peça os 100 reais, sem precisar contar história alguma ou fazer promessa de devolução do dinheiro. Se ele tiver, dar. Se não tiver, diz que não pode dar. Mas, não enrola. Não promete para depois e fica de última coca coca gelada no deserto, dando uma de gostoso, fugindo da raia, como muita gente nesse cidade.

O Cineas Santos é a pessoa mais solidária que eu conheço. Todas às vezes que estou em dificuldade, seja ela qual seja, a primeira pessoa que ligo é para o Cineas Santos. E ele nunca me falhou uma vez sequer. Nunca pedi nada para mim, que isso não faço. Quem me conhece sabe que detesto pedir favor. A não ser em socorro de alguém. E muita gente em Teresina deve a casa, o carro, a formatura, o emprego, até mesmo a vida ao Cineas Santos que nunca fez trombone disso. Um amigo meu, conhecido professor, que o Cineas Santos salvou da morte, no HGV, de quando em quando dispara a metralhadora contra o seu salvador. O Cineas Santos fica sabendo (porque esse tipo de fofoca é da boca de todo mundo). Porém ele nunca foi tomar satisfação com o nobre professor. Pelo contrário, sempre que pode o ajuda, em suas necessidades. O Cineas Santos assim fala, carinhosamente, como ele é jeito dele, do professor em pauta: "Esse filho da puta, esse caralho fala mal de mim pensando que vou processá-lo, que vou brigar com ele, que vou isso ou aqui. Não, irmãozim, vou não... Eu gosto desse desgraçado, desse filho de uma égua. E quando a gente gosta, gosta!". E o Cineas Santos gosta de todo mundo. Nunca ouvi o Cineas Santos perder tempo falando mal de quem quer que seja. O máximo que ele faz é ignorar o sujeito. Mas só até o primeiro pedido de socorro. O Cineas Santos cansou de sair da casa dele de madrugada para tirar da cadeia algumas pessoas que hoje, de quando em quando, falam dele pelos cantos da cidade. E ele faria tudo de novo, se preciso fosse.

Conheço o Cineas Santos há mais ou menos 30 anos. Sei que eu não sou um Paulo Machado, um Amaral, um Halan Silva, um M. Paulo Nunes, um R. Monteiro de Santana, uma Cláudia Brandão, um Netto, um Gabriel Arcanjo, um Rogério Newton, uma Luiza Miranda, até mesmo um Albert Piauí (por quem o Cineas Santos tem um carinho todo especial, apesar de tudo), mas sei também que ele me tem um gostar e um bem querer. Agora, por conta da dona Apinéia, vou pouco à Oficina da Palavra (gostaria de ir mais e mais e mais). Quando eu chego lá, ele se desmancha como manteiga a uma hora da tarde na Avenida Frei Serafim. É água, café, chá, bolacha, conversa fora, conversa dentro. Presente de um livro, de uma revista, de uma caneta, de um calendário, de qualquer coisa, até mesmo de uma rosa, colhida do jardim dele, que ele mesmo cuida, com ternura, amor e paz. E é assim o dia todo com todo mundo, entre um telefone e outro, entre um artigo e outro, entre uma aula e outra, entre uma molecagem e outra (sim, o Cineas Santos é o cabra mais moleque que eu também conheço). Gozador nato (epa!). É contador de piadas de primeira. Tira os nomes originais e bota os nomes dos amigos. Privar da intimidade dele, é rir até cair e rolar no chão o tempo todo. Está sempre aprontado uma e outra com um e outro. Dentro do limite da decência, do respeito, da amizade. Cineas Santos definitivamente é um bom caráter!

O Cineas Santos é um dos organizadores do Salão do Livro do Piauí, juntamente com o Nilson Ferreira, Wellington Soares e Luiz Romero. Sabem por que o Cineas Santos faz parte do SALIPI? Porque ele abre as portas dos governantes, dos empresários, dos convidados, do público em geral. O nome do Cineas Santos pesa. Avaliza. Dá credibilidade. O Cineas Santos está no meio? Está! Podem apostar que tem qualidade. Que tudo sai dentro dos conformes. Ninguém fica sem receber o seu devido. A palavra dele vale mais do que certos documentos passados em cartório. Porque ele é honesto, sério, competente, realizador, capaz, ágil, e, como disse, solidário. Quando alguém quer falar com o governador Wellington Dias ou com o prefeito Silvio Mendes, ao invés de procurar as secretárias deles, não, procuram o Cineas Santos, que pega o telefone e marca audiência para o freguês. Recentemente, precisando de um patrocínio da NOVAFAPI, embora conhecendo a Cristina Miranda, pois ela já trabalhou comigo no Salão de Humor do Piauí, na Prefeitura de Teresina, quando ela era presidente da Fundação Monsenhor Chaves e eu subsecretário e secretário da comunicação social (administração Heráclito Fortes), encontrando dificuldade lá, liguei para o Cineas Santos, que ligou para o vice-dretor de lá, o professor Alencar, e o patrocínio saiu na mesma hora. O Cineas Santos estava em São Paulo, tratando de assuntos dele. Como pelo celular não sabemos em que lugar a pessoa se encontra, ligamos e dá nisso. Ele poderia dizer: "Kenard, porra, estou em São Paulo, essa cidade buceta do tamanho do mundo, quando chegar ai eu vejo isso". Não, de lá mesmo ele disparou: "Alencar, o sem vergonha do Kenard é gente da gente, é meu irmão, o projeto dele é do caralho, dá o patrocínio que ele pede, e já, cacete, não enrola!". Bastou isso!

Do primeiro ao quinto SALIPI não fui convidado para nada do evento. Nunca deixei de ir um dia sequer do evento. Pego meus livros, como não tenho condições de botar banca, fico vendendo-os de mão em mão. Sento aqui, sento acolá, dou os autógrafos, e nunca fui incomodado. Sim, no quinto SALIPI, por conta do Pedro Costa (que é um dos que botam banca no SALIPI, porque hoje é um dos homens mais ricos e poderosos da área cultural e artística do Piauí) e um mal entendido com os segurança do evento, sobrou para mim, que estava autografando o livro Gonçalo Cavalcanti - o intelectual e sua época para o professor William, de português. Era quase 10 horas da noite, o SALIPI fechando, o Pedro Costa foi entrando e os seguranças não deixaram, mesmo o Pedro Costa mostrando o crachá de expositor. Olhou para mim, pediu socorro. O Cineas Santos ia passando. Olha para mim, para o professor William e para o Pedro Costa e disse que o evento, naquela noite, estava encerrado e foi nos arrastando para fora do Centro de Convenções. Neste ano, no sexto SALIPI, fui convidado para lançar o livro Torquato Neto ou a Carne Seca é Servida e participar do bate papo que o Luiz Romero comanda todos os anos, no seu aquário literário. Talvez tenha sido a forma do Cineas Santos ter me pedido desculpas. E nunca fiz cara feia para ele, pelo contrário. Produtor cultural e artístico que sou, sei o trabalho que dá fazer qualquer evento em Teresíndia ou em qualquer lugar que seja! A cabeça da gente fica do tamanho do bonde. Qualquer coisa nos leva à uma explosão de nervos, sem dó nem piedade. Em que descarregamos isso? Claro, nos amigos, porque os inimigos não chegam perto da gente!

É isso que devemos compreender. A força da amizade. O amigo é saber compreender o outro. No momento, eu estou morrendo de ódio do poeta Chico Castro, que vive aprontando comigo. Mas, mesmo antes destas cartas, eu passei e-mail para ele, com um artigo meu, publicado ontem na Kenard Kaverna, oferecido a ele. E disse: apesar de tudo, você é muito importante na minha vida. E é. O Chico Castro faz parte da minha vida. Ele entra e sai da Kenard Kaverna na hora que quer. Dorme aqui. Come aqui. Banha aqui. Chora aqui. Ri aqui. Assim como eu faço na casa dele. Ao longo dos anos, brigamos e brigamos demais. Ele fogo e eu petróleo. Porém, eu amo o Chico Castro. No momento, um dos maiores estudiosos da história do Piauí. Poeta. Crítico. Ensaísta. Professor. Produtor Cultural. Seus livros estão sendo publicados pelo Senado Federal, debaixo de rigorosa seleção de originais. Publicados e republicados. O que prova a qualidade das suas obras. Ainda não foi convidado para o SALIPI, embora tenha sido convidado para Feiras de Livros no mundo inteiro, falha da organização do evento. Mas, quem perde? O Chico Castro? Não, como ele mesmo diz, está sendo reconhecido no restante do país e fora do país. O SALIPI? Sim, porque a história é implacável. Nós seguimos outro rumo, porém o registro da nossa passagem aqui fica. Quando olharem, futuramente, os convidados do SALIPI, com tanta gente boa do Piauí do lado de fora, a pergunta se fará: por que?

Os Târantulas - Airton Sampaio, J. L. Rocha do Nascimento, M. de Moura Filho e Bezerra JP, arredios das etapas outras do SALIPI, este ano estiveram no Centro de Convenções. Fiquei feliz em vê-los ali, como ficaria mais feliz em ver mais iguais no evento. Eu não vou ao SALIPI para ver o Cineas Santos (embora fique feliz todas às vejo que eu o vejo e fale com ele lá). Eu vou ao SALIPI porque é o Salão do Livro do Piauí. Impessoal. Este ano, por exemplo, além dos Tarântulas, meu coração saltou quando eu me encontrei com o Edmar Oliveira. Quando eu falei com o Edmar Oliveira. Quando eu fotografei o Edmar Oliveira. Quando o Edmar Oliveira sentou-se ao meu lado e ficamos a nos falar por horas. Eu sempre quis um encontro assim com o Edmar Oliveira. Depois, ele passou a me escrever, a postar material meu na página dele - piauinauta, inclusive dizendo que passou a se utilizar do meu arquivo fotográfico, hoje um dos maiores do Piauí. Quem é Edmar Oliveira? Ora, cara pálida, hoje posso dizer com orgulho: meu amigo.

Dessa forma, O SALIPI tem muito o que melhorar. Vamos discutir o SALIPI. É importante, mas de forma impessoal. Quanto ao Cineas Santos, os que o visitam diariamente (e são dezenas de pessoas, como já disse, as mais variadas em tudo), podem dar o testemunho que ele não é nada do casca grossa que dizem que ele é. Eu prefiro mil vezes uma pessoa como o Cineas Santos do que as hienas burocráticas do Programa de Cultura (SIC!) BNB, por exemplo. O Cineas Santos quando não pode ajudar uma pessoa, mesmo assim ele ajuda, não a atrapalhando em nada! Pelo contrário, o que ele puder fazer, ele faz! E faz sem querer nada em troca! Nem mesmo o muito obrigado da pessoa agraciada com a sua solidariedade! Não carece! Vida longa ao SALIPI e ao Cineas Santos!

Kenard Kruel

PS.: A Kenard Kaverna, esta pocilga eletrônica, estará sempre aberta para qualquer polêmica que se queira travar nas letras e nas artes piauienses. Melhor se não vier como anônimo, que a pessoa deve segurar a batata quente na mão, como estamos fazendo neste momento, de maneira serena, adulta, sem levar nada para o plano pessoal. Polemizar é importante. Como dizia o Torquato Neto (e o mês de novembro, se que avizinha, é o mês de Torquato Neto): é preciso desafinar o coro dos contentes. Desafinemos, pois, pois! Sem medo de ser feliz! Cartas para a Kenard Kaverna.

(Foto e texto retirado do blog Kenard Kavena, entre sem bater, endereço ao lado)

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